segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Necessidade de verdade

Necessidade de verdade


Quando os homens passaram a ter consciência de si no mundo, as primeiras perguntas foram feitas, a saber, de onde vim, para onde vou, quem sou eu etc. e como resposta tiveram – o silencio cósmico. E o que mais nos angustia senão ser ignorados?


A natureza em seu esplendor assustava-os mais que os maravilhava. E as respostas precisavam ser dadas. Os homens sentiam-se sós, jogados ao relento, sem motivo algum de existir, e isto não podia ser! Logo depois, perceberam que a natureza parecia ajudá-los em umas ocasiões e em outras castigá-los, e começaram eles a acharem que sua insignificante linguagem e seu comportamento era o responsável por a natureza agir de tal modo. Por não saberem que a natureza continuava a fazer o mesmo que fazia antes deles. 




Com a linguagem e com o raciocínio lógico em pleno surgimento e, portanto, demasiado falho e vago, as primeiras respostas foram elaboradas, e como não poderia ser diferente, eram destituídas de sentido, isto é, não respondiam, de fato, as perguntas, mas aliviava-os, então, foram aceitas.


Depois de tal conquista, a natureza passou a ser dotada de vontade: os trovões, os terremotos, os oceanos e tudo mais que a compõe passou a ser intencional, a ter uma finalidade. Mas esqueceram eles que tal vontade é demasiada humana.





E não bastando isto, mais tarde criaram uma natureza ainda mais potenciada, a saber, uma sobre-natureza, pois a natureza parecia pequena e impotente demais para ter gerado-os. Em outras palavras, o homem achava-se tão único e especial que só algo que está além da natureza poderia ter gerado-os. Algo com sua imagem e semelhança.


A consciência de si no mundo levantou perguntas e as respostas teriam que ser dadas, mesmo sendo falsas, o conteúdo não importava, o que importava era respondê-las de uma forma a aliviá-los da angústia, que é não tê-las.


Os homens necessitam de verdades, porém não são capazes de suportá-las; e logo inventam suas próprias. E sabendo que são frágeis, vestem-nas de mistérios, ou seja, tiram-nas da experiência presente, transcendendo-as, pois estes sabem, que mentiras só fazem mal quando não se sabe que são mentiras.


Os homens são como crianças que vão à praia: por necessidade de fugir de si, fazem castelos de areia, uns mais elaborados que outros e orgulham-se de tê-los feitos o mais idiossincrático possível. O mar, porém derruba-os sem a menor dificuldade, e tudo começa mais uma vez. Por não saberem fazer de outro modo, os homens, continuam a fazer seus castelos de areia com esperança que um dia o mar não mais os derrube, pois acham que o problema está no mar. 





domingo, 17 de janeiro de 2010

Vossa condição

Vossa condição

Ó miseráveis, quem de vós suporta a si?
Quem de vós suporta a lucidez?
Quem de vós suporta não se iludir?
Quem de vós é dominador de si?

Ó moribundos, admita vossa vil condição
Não podes dizer sim a todas estas perguntas.
Conheço-vos, assemelha-se ao avestruz.

És tu, ó fruto do acaso, digno deste ar, desta água e, Principalmente,
Desta terra?
Se pudesse falar, diria ela: és minha maior vergonha!
Vós, ó filhos meus, diria ela: és digno de desdém.

De ti mesmo foges.
De ti mesmo és um estranho.
De ti mesmo és escravo.
De ti mesmo és indigno.

Vossa consciência é vossa maior conquista 
Mas para vós, ela é demasiada virulenta.
Quem de vós suporta está consciente de si
Sem querer também sucumbir?

Quando puderes dizer sim a todas aquelas perguntas, terás tu,
Superado vossa vil condição.
Quando consciente estiveres e sucumbir não mais quiseres, entenderás o que é existir.
Enquanto isso, não passas de um avestruz. 
Rubens Sotero

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ó homem, o que tu és?

Ó homem, o que tu és?

O que tu és, ó homem? O que te torna o que és? O que representas para o cosmos? És tu sabedor de tais respostas ou de nada te interessam? Se não te interessam já mostra quem és, todavia não irei tornar público.

Serás tu, ó homem, um aglomerado de moléculas que, a principio, não tem motivo algum de ser o que és ou se quisermos ser mais específicos, um aglomerado de átomos que estão organizados de tal modo sem finalidade alguma? Bem, não há como dizer que não és formado por tudo isto, vosso corpo é composto de setenta por cento de água, exatamente como a água que bebes. A água, por sua vez, é formada de átomos: hidrogênio e oxigênio, ambos, partículas minúsculas e, portanto, insignificantes. Sobre a finalidade de ser, não nos cabe devanear: vossa vontade de verdade sempre irá coincidir com o que desejamos!

És tu, ó ser racional, fruto de uma evolução, de uma cega evolução. Tens o mesmo ancestral dos macacos, e antes disso, tens o mesmo ancestral comum dos vermes. Dizem: “como pode o homem ter vindo do macaco, há tantos macacos ainda.” Como se o macaco fosse um homem que deu errado; às vezes, porém, penso se não é o homem um macaco que não deu certo!

O que te faz ser o que és: vossa racionalidade ou vossa arrogância? Tudo bem, vossa arrogância é fruto de vossa racionalidade; do uso equivocado e primitivo da razão. És o animal demasiado arrogante. Vossa racionalidade pouco te é útil: usa-a para enganar-te; usada de maneira honesta, não te suportaria! És demasiado frágil, és arrogante, és hipócrita, és humano demais.


Antes de ti, ó homem, o cosmos já era, depois de ti, o cosmo continuará a ser; e o que terá sido vós? Poeira, na verdade, já o és. Este é apenas um momento, no qual viesse a existir, e subitamente deixará de existir, se não for por vós mesmos, será por aquilo de que és feito. Assim como os dinossauros dominaram esse pequeno ponto azul, vós agora o fazeis, mas lembrai-vos do fim de vossos antecessores.

És isso tu, ó homem: um nada fruto do acaso? sim; e assim será enquanto for humano, demasiado humano. Quando vós se interessar por vossa extensão e, por conseguinte, tomar consciência de vossa pequenez, entenderá que és bem mais do que vossa vontade de verdade te diz. Entenderas que és o próprio cosmos tomando consciência de vossa exuberante e enigmática existência.




Rubens Sotero