domingo, 10 de outubro de 2010

Linguagem como fonte de verdade

Linguagem como fonte de verdade


 
Todos os animais possuem linguagem, isto é, aquilo com o qual é possível a comunicação mútua entre a mesma espécie. A linguagem nasce da necessidade de sobrevivência. Este é o germe originário da linguagem. Mais tarde, porém a linguagem é extrapolada por uma espécie – homosapiens – e a comunicação passa a ser escamoteada: a linguagem passa a ser sinônimo de realidade, ou melhor, de verdade. 

No início apontava-se para algo emitindo um ruído (uma “palavra”) informando a outrem; tal ruído, com o tempo, passava a ser sinônimo da própria coisa. Depois de um tempo as palavras, já bem mais elaboradas, ganham primazia sobre a própria coisa, pois mesmo sem as coisas podia-se referir-se a elas e porque enquanto as coisas iam o nome ficava. 

Mesmo a linguagem sendo demasiada rudimentar, servindo tão somente para expressar pequenos fatos, ela foi imprescindível e, até mesmo, eficaz. E os Sapiens pensaram: se o mundo físico é real e é possível comunicar-lhe a outrem, a comunicação deve ser real. Sendo só possível comunicar algo através da linguagem, então, concluí-se que toda comunicação comunica o real. Até porque, o que não-é não pode ser visto, ouvido, tocado ou pensado; o que não-é é incomunicável, portanto o que se diz é e deve ser sempre o real!

Não há regra alguma para formação de uma palavra: junta-se letras ou ruídos aleatoriamente e, assim, tem-se as palavras. Seu valor se estabelecerá com o uso. Quando as palavras são formadas para expressar fenômenos ou sentimentos elas possuem respaldo, pois seu significado precede-as, isto é, possuem referentes reais, sensível. Porém, uma hora, palavras passaram a antecederem os fenômenos ou sentimentos e começa aí a ficarem vazias. Pois o que elas poderiam significar?

No entanto, usam-se palavras sem referentes reais, sensíveis. Para corroborar a linguagem destituída de referentes reais a lógica e a imaginação faz-se imprescindível. A lógica como estrutura que dá coerência e a imaginação como a formação de imagens, ou de simulacros. Assim a tal raça fez-se escravo da razão.

Como não há regras para a formação das palavras e com o raciocínio de que só é possível dizer o real, as palavras deixam de relatar fatos para criá-los. As palavras passam a antecederem os fatos e também a ficarem vazias de significados. Quando uma palavra é destituída de significado, ela aceita todos possíveis e mesmo assim continua intocável.


Rubens Sotero