terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O paradoxo da ética divina



O paradoxo da ética divina


Jesus, o cristo, isto é, o filho de Deus que, aliás, é o próprio, foi morto – por homens. Tudo bem, temporariamente. Para nos salvar, Ele passou três dias morto. Mas até aí tudo “bem”.

O paradoxo (maior) vem agora. Ele nos disse: ‘não matarás’ e também ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Como vimos, Deus morreu, ou melhor, foi morto (pelo menos em parte). Porém pode Ele perdoar seus assassinos sem desconsiderar o 'não matarás'? Se Ele perdoar seus assassinos, ele passará por cima de seu mandamento, porém se ele não perdoar, Ele também irá contra si próprio, ou seja, se Ele faz uma coisa, não faz outra, e vice e versa.

E isto é só o começo. Quem Ele não perdoa, vai para o inferno; quem Ele perdoa, vai para o céu. Se alguém por ventura matar os assassinos de Deus, será mandado para o fogo do inferno, ora, é proibido matar (com perdão do paradoxo). Aqueles, porém que mataram Deus vão para o céu. Se Deus perdoar tanto seus assassinos quanto os assassinos de seus assassinos, (pois Ele é amor) então – não matarás é arbitrário – e mais uma vez ele vai contra si, a menos que Ele seja injusto. Mas Deus não pode ser injusto.

Dirão: “tais mandamentos servem para os homens apenas”. Ora, ou Deus ama ou não ama; ou Ele perdoa ou não perdoa. Então, ou Ele não percebe tal erro, e é ruim em lógica; ou percebeu e quer nos ferrar. Ou então, as premissas são falsas. Em todo o caso, sinto um cheiro demasiado humano nisso tudo.

Rubens Sotero