Ó homem, o que tu és?
O que tu és, ó homem? O que te torna o que és? O que representas para o cosmos? És tu sabedor de tais respostas ou de nada te interessam? Se não te interessam já mostra quem és, todavia não irei tornar público.
Serás tu, ó homem, um aglomerado de moléculas que, a principio, não tem motivo algum de ser o que és ou se quisermos ser mais específicos, um aglomerado de átomos que estão organizados de tal modo sem finalidade alguma? Bem, não há como dizer que não és formado por tudo isto, vosso corpo é composto de setenta por cento de água, exatamente como a água que bebes. A água, por sua vez, é formada de átomos: hidrogênio e oxigênio, ambos, partículas minúsculas e, portanto, insignificantes. Sobre a finalidade de ser, não nos cabe devanear: vossa vontade de verdade sempre irá coincidir com o que desejamos!
És tu, ó ser racional, fruto de uma evolução, de uma cega evolução. Tens o mesmo ancestral dos macacos, e antes disso, tens o mesmo ancestral comum dos vermes. Dizem: “como pode o homem ter vindo do macaco, há tantos macacos ainda.” Como se o macaco fosse um homem que deu errado; às vezes, porém, penso se não é o homem um macaco que não deu certo!
O que te faz ser o que és: vossa racionalidade ou vossa arrogância? Tudo bem, vossa arrogância é fruto de vossa racionalidade; do uso equivocado e primitivo da razão. És o animal demasiado arrogante. Vossa racionalidade pouco te é útil: usa-a para enganar-te; usada de maneira honesta, não te suportaria! És demasiado frágil, és arrogante, és hipócrita, és humano demais.
Antes de ti, ó homem, o cosmos já era, depois de ti, o cosmo continuará a ser; e o que terá sido vós? Poeira, na verdade, já o és. Este é apenas um momento, no qual viesse a existir, e subitamente deixará de existir, se não for por vós mesmos, será por aquilo de que és feito. Assim como os dinossauros dominaram esse pequeno ponto azul, vós agora o fazeis, mas lembrai-vos do fim de vossos antecessores.
És isso tu, ó homem: um nada fruto do acaso? sim; e assim será enquanto for humano, demasiado humano. Quando vós se interessar por vossa extensão e, por conseguinte, tomar consciência de vossa pequenez, entenderá que és bem mais do que vossa vontade de verdade te diz. Entenderas que és o próprio cosmos tomando consciência de vossa exuberante e enigmática existência.
Rubens Sotero
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