Os homens são a contradição de si mesmos: Não obstante serem demasiados religiosos – não sobreviverem sem a ideia de uma transcendência -, negam o método de pesquisa científico, não porque sabem do que se trata, mas tão só porque a ciência desloca, cada vez mais, o lugar da divindade para além da própria transcendência; isto é, a divindade nunca está onde se presume: naquilo que ignoramos – basta explicar para ela se dissipar! A ciência, portanto, mostra-se, aos olhos deles, demasiada virulenta. Mas o problema não está aí, e sim, porque a falta de coerência e/ou de honestidade deles com eles mesmos torna-se desdenhosa: a ciência é-lhes perniciosa, seus produtos, no entanto, são divinos. Numa palavra, nega-se o método da ciência não o que ela produz, a saber, tecnologia.
Dizem os mais esclarecidos: a ciência nunca e por motivo algum destituirá a divindade de seu trono. Pressupõem, no entanto, que o divino está para além dos limites da ciência. Contudo resistem a suas explicações, se estas não deixarem lugar para o místico. Exigência esta que não se encontra quando o assunto é tecnologia. Os esclarecidos estão convictos que ciência e religião são diametralmente opostas: desde que a ciência fique aquém da mística, claro.
A ciência sem a religião é manca, porém não para ela mesma, e sim, para muitos que a fazem; e principalmente, para quem usufrui de seus produtos. A religião sem a ciência é cega, e com ela, torna-se mais uma vez hipócrita. Os produtos tecnológicos são oriundos do método científico; como, pois, é possível não se ser hipócrita aceitando um sem aceitar também o outro?
Se a ciência parasse hoje, nós com ela, sucumbiríamos; tornamo-nos escravos de seus produtos. Se a religião sumisse hoje, a covardia, em grande parte, também, sumir-se-ia. Lembra-te: sede uma contradição, mas no meio de toda contradição, assume-te como tal. Sei que não sabes que és assim.
Rubens Sotero